Compostos por fauna e flora singulares, características físicas, climáticas, geográficas e litológicas (das rochas) importantes para o ecossistema, os seis biomas brasileiros – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal – renderam ao Brasil o título de país com a maior biodiversidade do planeta.
Para proteger e conservar esses ambientes tão diversos, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) atua nas 327 unidades de conservação (UCs) federais espalhadas por todos esses biomas, apresentando e editando normas e padrões de gestão das UCs, propondo a criação, regularização fundiária e apoiando a implementação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).
Cada bioma guarda um vasto patrimônio ecológico, que o ICMBio ajuda a preservar por meio da gestão das unidades de conservação, divididas entre os grupos de proteção integral e de uso sustentável. Cabe às UCs o papel de proteger os habitats e ecossistemas, atuando para manter a preservação das especificidades de cada uma dessas áreas naturais.
AMAZÔNIA
Detentora de 49,29% do território brasileiro, a Amazônia é hoje o maior bioma do mundo, que abrange nove países (Brasil, Paraguai, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana Francesa e Suriname). Entre as UCs que compõem esse conjunto de riquezas naturais temos a Floresta Nacional (Flona) do Tapajós. Criada em 1974, a Flona está localizada às margens do Rio Tapajós, na região do estado do Pará. De acordo com José Risonei, gestor da UC, “essa é a Floresta Nacional que mais abriga pesquisa científica no país”. Risonei comenta, ainda, que a cobertura florestal preservada, o Rio Tapajós com suas águas verdes e mornas, e a enorme beleza cênica da região tornaram a Flona uma das unidades de conservação mais visitadas na região norte do Brasil.
CAATINGA
Único bioma exclusivo do Brasil, a Caatinga possui uma biodiversidade também restrita, isso porque parte de sua variedade biológica não é encontrada em nenhum lugar do mundo, o que torna o trabalho em busca da conservação da região algo primordial. Faz parte desse bioma a Estação Ecológica (Esec) Raso da Catarina, que protege mais de 100 mil hectares da Caatinga. José Tiago dos Santos, gestor da UC, conta que essa é uma das poucas porções contínuas do bioma na região. Na Esec, que fica localizada nos municípios baianos de Paulo Afonso, Jeremoabo e Rodelas, podem ser encontradas algumas espécies ameaçadas de extinção, como a arara-azul-de-Lear e a onça-parda. “Todo esse patrimônio é defendido de pressões, principalmente da caça e tráfico de animais silvestres, com o esforço da equipe e de alguns parceiros, como a Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal”, explica
CERRADO
Segundo maior bioma da América do Sul, o Cerrado é a região que possui a vegetação de savana mais rica do mundo. O bioma é composto por inúmeras espécies de plantas nativas e diversas espécies endêmicas de animais. De todos os biomas brasileiros, esse é o que mais sofre com a ação humana e um dos motivos é que apenas uma parcela de seu território é protegido por UCs.
Fernando Tatagiba, gestor do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, explica que na atual realidade, com as altas taxas de devastação do Cerrado, gerando perda e fragmentação acelerada de habitat, o parque se torna fundamental para a manutenção da vida na região.
De acordo com Tatagiba, a unidade de conservação, localizada em Alto Paraíso de Goiás (GO), é palco de centenas de pesquisas científicas. Outro dado bastante representativo é que o crescente número de visitantes tem contribuído de forma importante para a disseminação de conhecimento, bem-estar humano e desenvolvimento econômico na região. “Por sua riqueza, diversidade e representatividade de paisagens e ecossistemas, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros é reconhecido como Patrimônio Natural Mundial, juntamente ao Parque Nacional das Emas (GO), o que muito nos honra e aumenta a responsabilidade da sociedade como um todo, na valorização e conservação desta joia da natureza”, ressaltou o gestor.
MATA ATLÂNTICA
O bioma mais rico em biodiversidade é também o mais ameaçado do planeta. A principal parte dos remanescentes da vegetação nativa da Mata Atlântica ainda se mostra vulnerável às ações humanas, o que ocorre desde a chegada dos portugueses ao Brasil. Como aliada na conservação desse bioma, a Floresta Nacional de Ipanema foi criada em 1992. Localizada a 120 km da cidade de São Paulo, a UC está em uma área de tensão ecológica, entre Cerrado e Mata Atlântica. Proteger, conservar e restaurar os remanescentes do bioma é uma das importantes missões da unidade de conservação.
O responsável pela gestão da área protegida, Rafael Costa, conta que a Flona abriga um dos mais importantes patrimônios históricos brasileiros, formado por sítios arqueológicos que remontam aos primórdios da ocupação do território nacional pelo homem europeu, além de testemunhos da história da industrialização nacional e de fatos ligados à definição do Brasil como nação.
Segundo Rafael, a UC “apresenta uma rica biodiversidade regional, composta por 539 espécies de vertebrados, onde atualmente encontram-se cerca de 36 espécies que merecem atenção quanto ao seu estado de conservação, inclusive espécies animais e vegetais de ocorrência regional exclusiva”.
PAMPA
Um dos biomas de áreas de campo em clima temperado mais importantes do mundo, o Pampa é restrito ao estado do Rio Grande do Sul, ocupa 63% do território gaúcho, apresentando ecossistema diverso, com espécies endêmicas, como o sapinho-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus atroluteus). A Área de Proteção Ambiental (APA) de Ibirapuitã é a única unidade de conservação federal desse bioma. Raul Coelho, gestor da UC, diz que Ibirapuitã protege parte dos 43% dos remanescentes campestres que existiam no sul, principalmente perdidos na conversão para áreas de agricultura e silvicultura.
Sobre a importância da unidade para a região, o gestor explica que “a APA foi criada com o intuito de conservar os remanescentes da mata aluvial e os recursos hídricos; melhorar a qualidade de vida das populações residentes; proteger as espécies ameaçadas de extinção; preservar a cultura e a tradição do gaúcho da fronteira, além de fomentar o turismo ecológico, a educação e a pesquisa científica”.
PANTANAL
É uma das maiores extensões úmidas contínuas do mundo, com grande potencial cênico e rica biodiversidade. O Pantanal mantém boa parte da sua cobertura vegetal nativa, o que, segundo pesquisadores, pode ser o motivo da permanência de espécies que em outros biomas já estão em extinção. O bioma conta com expressiva presença de comunidades tradicionais, como os povos indígenas e quilombolas, que no decorrer dos anos ajudaram a difundir a cultura pantaneira.
Nuno Silva, responsável por gerir o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense, conta que a UC desempenha uma função fundamental na conservação das populações de peixes, pois apresenta alta diversidade de habitats para o crescimento, alimentação e reprodução das espécies, servindo como um repositório de recursos pesqueiros para o sistema pantaneiro. ”No Parque Nacional do Pantanal Matogrossense são encontradas 70% das espécies de peixes existentes no Bioma Pantanal”, comenta. O parque é considerado uma das regiões mais importantes do mundo para as aves aquáticas. A relevância da unidade de conservação é reconhecida internacionalmente, tendo sido designado Sítio Ramsar pela Convenção sobre Áreas Úmidas, a Convenção Ramsar, e Sítio do Patrimônio Natural da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Campanha da Fraternidade 2017
A Campanha da Fraternidade, realizada todos os anos pela Igreja Católica no Brasil, traz em 2017 o tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”, tendo como lema “Cultivar e guardar a Criação”. A campanha aborda os seis biomas brasileiros, suas características e significados, desafios e as principais iniciativas já existentes na defesa da biodiversidade e da cultura dos povos originários.
Entre as ações propostas está o aprofundamento de estudos e debates nas escolas públicas e privadas sobre o tema. Além disso, a campanha chama a atenção para a necessidade de a população defender o desmatamento zero para todos os biomas e suas composições florestais.
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